sábado, 7 de maio de 2016

Despertar as crianças para o conhecimento...

Durante vários anos, por opção relacionada com a dinâmica familiar, pouco levei os miúdos a passear em termos culturais.
Vivíamos no campo, num condomínio onde os miúdos podiam andar na rua livremente, e parecia-me que isso chegava... brincar sem restrições. E se calhar até foi, durante muito tempo, uma excelente opção.
No Inverno os miúdos brincavam em casa, num sótão só deles, com tudo o que precisavam para criar os seus mundos de sonho...
No Verão brincavam na rua, tinham a piscina, as bicicletas, os patins...
Eram felizes!
Mas cresceram e de repente a Mi começou a querer mais.
Os três começaram a ter curiosidade sobre o mundo, sobre a arte (em especial a Mi) e sobre a história...
Os primeiros passeios foram por Sintra (amo Sintra) e eles adoravam conhecer tudo, queriam ver e saber.
A primeira grande viagem cultural deles foi a Londres e a reacção foi perfeita. Os museus foram a grande atracção deles. Adoraram tudo. O F. adorou em especial o Museu de História Natural, a Mg o Science Museum e a Mi o British Museum (a colecção egípcia, grande paixão da Mi)...
Adoraram tudo, queriam saber tudo e tinham verdadeira ânsia pelo saber.
Fiquei espantada com aquela sede de conhecimento e percebi o que precisavam...
Em Portugal, continuávamos sem  passear muito, mas no Verão seguinte fomos a Madrid e Barcelona e os meus filhos amaram tudo.
Em Madrid (para além do parque da Warner) adoraram o Museu Rainha D. Sofia (gosto mais do que o Museu do Prado - gostos pessoais...), bem como o Palácio Real... Em Barcelona amaram o Parque Guell e adoraram a Casa Milá/ La Pedrera... Foi um gosto vê-los de headphones muito interessados em perceber tudo...
De regresso e nesta nova vida que agora vivo decidi investir afincadamente no aprofundamento dos conhecimentos dos meus filhos. Despertá-los para as artes em geral: pintura, escultura, arquitectura, história, música... E eles têm adorado.
O primeiro Museu que escolhi foi o Berardo e recomendo vivamente. Os miúdos adoraram e divertiram-se imenso. Os seus gostos manifestaram-se claramente na escolha da obra preferida, mas isso é crescer também...
Seguiu-se o Padrão dos Descobrimentos, a Exposição do Corpo Humano, o Museu da Electricidade, a Gulbenkian, e agora vão começar os concertos...
Eles andam tão felizes.
E vejo que estão mais ricos, como pessoas interessadas no meio que os rodeia.
Partilho com eles as esculturas, pinturas, poemas e músicas que adoro...
Ouço a leitura que fazem do que vêm ou ouvem e fico tão orgulhosa...
Começámos agora a desbravar este caminho em que eu aprendo tanto como eles, mas sei que desta forma serão muito mais completos enquanto adultos.
Cabe a nós, pais, levá-los a conhecer o mundo que os rodeia, despertá-los para a arte, para a sede de conhecimento.
Se virem em nós esse exemplo seguirão com prazer e tudo fará naturalmente parte do seu desenvolvimento...
Assim é em tudo e também, e em especial, nesta área...

Ficar em casa com os filhos... É uma opção, mas não a minha...

Leio muitas vezes reportagens, comentários, etc. sobre as mães que optam por ficar em casa com os filhos, em especial quando são mais pequenos, em vez de regressarem ao trabalho ou procurar um.
Sem tecer qualquer juízo de valor acerca dessa opção, que respeito, acho que era incapaz de o fazer.
A minha realização pessoal passa necessariamente pela realização profissional.
Não concebo a ideia de não trabalhar, de não me sentir produtiva, de não me realizar profissionalmente, procurando alcançar os meus objectivos nessa área.
E, ter filhos, não alterou esta minha visão.
Na verdade, admito, que me sinto desconfortável com os comentários de que as mães que optam por ficar com os filhos também têm uma vida muito atarefada, muito cansativa, muito absorvente...
Acredito...
Ok, tratar de uma casa, garantir a sua limpeza e organização dá trabalho.
Lavar e passar a roupa a ferro cansa.
Tratar dos filhos, dar banhos, refeições, ver trabalhos de casa, brincar com eles e estar com eles é absorvente...
É tudo verdade, mas, a mãe que trabalha faz isso tudo também e ainda trabalha.
Ontem, por exemplo, trabalhei desde manhã cedo e cheguei a casa perto das 20h00 - felizmente tenho o apoio da minha mãe, o que me permite chegar mais tarde.
Quando cheguei a casa tive de fazer o jantar (no caso só faltava a sopa).
Antes ainda tive de passar pelo supermercado...
Ajudei o F. a fazer os trabalhos de casa.
Fui buscar as manas à ginástica.
Em casa, dei banho e ajudei a vestir o F..
Ajudei a terminar o banho das MM.
Sequei o cabelo das MM....
Dei-lhes jantar
Fiz pipocas para a noite de cinema
Estive com eles a dar um pouco de atenção
Deitei-os...
Que horas eram?
Cerca das 22h30...
Estava estoirada... no meio desta correria ainda consegui fazer um pouco de ginástica...
Quando finalmente a casa estava silenciosa eu estava cansada, agastada... ainda que feliz.
Se não trabalhasse? Teria feito tudo isto com calma, sem pressas...
Não invejo quem fica em casa mas não é a minha opção.
O reverso da medalha? Fico mais cansada, quase não tenho tempo para mim, mas sou feliz pois estou realizada como profissional e como mãe...
Opções...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudar de vida aos 41...

Hoje, a propósito de um excelente texto do Público, dei por mim a pensar como é, de facto, mudar de vida aos 40 (no meu caso 41)...
Tudo na primeira pessoa... sem filtros...
É assustador. Não há como dizê-lo de outra forma...
Há momentos de pânico, momentos em que pensamos se não teria sido melhor ficar tudo na mesma... ainda que não fosse feliz, pelo menos estava tranquila...
Há momentos em que penso que não sou capaz... que não consigo arcar com todo o mundo nos meus ombros...
E, mudar de vida, aos 41 anos, com 3 filhos pequenos?
Nada mais tenebroso... não por eles... por eles não!
Eles são o meu mundo, o meu porto de abrigo, o melhor de mim, como diz a fadista...
Mas sei que vou ter de os ajudar a crescer, a serem adultos felizes - é o que mais desejo: mais do que ricos, com o curso xpto, etc... desejo que sejam felizes...
E é angustiante saber que estou praticamente sozinha nessa travessia... (o pai está presente, é presente e sei que posso contar com ele para tudo e em todos os momentos)
Na primeira pessoa é difícil expressar a panóplia de emoções e sensações que me fazem seguir em frente e mudar de vida aos 41 anos...
Mudar de casa, regressar à cidade, à minha cidade... É fantástico sim, mas assustador...
A casa é maravilhosa para esta nova vida. O local fantástico e perfeito para esta nova vida. A cidade é ideal para esta nova vida...
Mas começar tudo de novo é aflitivo...
Os miúdos estão felizes, claro que sim, mas tenho medo por mim e por eles, pois vão, também eles mudar de vida...
O projecto de vida de de viver numa vila, no campo, numa vivenda com cão e gato, com família tradicional (pai, mãe e filhos), com amigos que vão desde o berçário ao secundário acaba aqui para os meus filhos e eu sei que eles estão felizes mas estão assustados... e eu ainda mais por eles...
Deixo de estar casada, mas não volto a ser solteira... assumo o estatuto de divorciada... que palavra feia... não gosto dela, mas gosto da liberdade que me devolve.
Mas... ainda estou a aprender a viver com esta liberdade de poder sonhar, querer, amar, e ser feliz sozinha...
É complicado, não me venham com histórias...
É libertador, sim, quando saímos de um casamento que já não nos preenchia - só tinha por base uma grande amizade - mas não é fácil...
Sei lá eu viver agora como rapariga - sim, porque me sinto como tal - livre e desimpedida? Presumo que seja como andar de bicicleta, que não se esqueça, mas é dose... não é fácil, e o mundo em especial o mundo das relações humanas e até amorosas não está como era há 18 anos atrás... e eu não tenho 23 anos...
Não mudo de emprego, nem de local de trabalho... Valha-me isso que é a única segurança que mantenho nesta fase de revolução...
Mas... estou feliz.
Sinto-me como uma menina que vai pela primeira vez à Feira Popular - e como eu gostava de ir à Feira Popular... - Feliz e ansiosa pelas novidades, brincadeiras e alegrias, mas assustada exactamente por essa novidade, pelo desconhecido, pela renovação...
De facto, como li naquele texto que indiquei em cima, a maior mudança não é de casa, cidade, escolas, amizades, etc... a maior mudança é dentro de mim...
Dentro de mim... E essa sim é a mais assustadora.
Sempre fui uma lutadora, habituada a superar-me em tudo, mas de repente, e aos 41 anos descobri em mim facetas que desconhecia. E descobri que almejo a todo o custo ser feliz. Não exijo nada menos que isso... Ser feliz.
Dou por mim a querer ser feliz como nunca fui. A querer amar como nunca amei.
Dou por mim a querer viajar, conhecer, ler, apreciar... Parece que os dias são pequenos para tanta novidade na minha vida. Estou sedenta de tudo o que me rodeia.
Tenho novamente vontade de cantar, de dançar, de ser eu própria.
Sim, porque a maior mudança... aos 41 anos... foi ao centro de mim... foi encontrar-me como nem eu sabia que era. Descobri um eu que nem eu conhecia - soa estranho, eu sei.
E estou a adorar esta viagem ao centro de mim. Cada dia me encanto mais com isso. Mas, lá está, é assustador, pois tenho de conviver com os meus medos, os meus fantasmas, as minhas inseguranças.
No entanto, cada viagem ao centro de mim trás consigo uma superação, menos um medo, menos uma insegurança...
Não há como dizê-lo de outro modo... É assustador... Dá pânico... Mas é muito, muito enriquecedor.
A maior mudança está na minha cabeça e no meu coração e esses, agora, e de agora em diante apenas a mim pertencem...
Um dia destes assustei a minha mãe dizendo-lhe: A C. que conhecias morreu... não existe mais. Claro que era uma metáfora, mas assustou-se, coitada.
No entanto é verdade, mudei de tal maneira que não existo mais como era... nunca mais.
E é isto... Mudar de vida aos 41 anos...